Encontros de Leitores

14-11-2022 16:57

    No dia 27 de outubro, pelas 18h00, teve lugar na Escola Básica n.º 2 de Avelar (EBN2) a atividade "Encontro de Leitores", inserida no programa do Mês Internacional das Bibliotecas Escolares (MIB), dinamizada pela equipa da Biblioteca Escolar (BE).

    Esta atividade, particularmente dirigida aos alunos do 8.º ano e respetivos pais/encarregados de educação, constituiu um momento de partilha de leituras e do prazer de ler, tendo como ponto de partida uma oficina de escrita realizada nas aulas de Português nas turmas do 8.º D e 8.º E, sob o mote “Memórias de um livro”, da qual resultaram alguns dos textos, aqui divulgados pelos respetivos autores.

Professora Eunice Oliveira

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A vida de uma Banda Desenhada

    Sou um livro de B.D. do Homem Aranha.

    Vivo na estante do quarto de um rapaz de 14 anos, o Peter Parker, como no filme, mera coincidência!

    O Peter é alto e magro, tem cabelo castanho e os olhos esverdeados. É inteligente, tímido, e desastrado como nunca vi ninguém. Acreditam que ainda ontem entornou Coca-Cola no teclado do seu novo computador?!

    Não tem muitos amigos e, talvez por isso, está sempre a ouvir música, ultimamente do Ed Sheeran… Desconfio que anda apaixonado! Quem será a sua Mary?

    Já eu nunca estou sozinho. Tenho a companhia de outros livros como, por exemplo, do Diário de um Banana, da Viagem ao Centro da Terra, do manual e do caderno de atividades de Ciências (esses estão sempre encostados a mim, vá-se saber porquê…). Seguem-se três da coleção “Uma Aventura” e, logo depois, a irritante B.D. do Super-Homem, que está constantemente a provocar-me: que é melhor do que eu, que tem mais “seguidores” que eu já tenho teias de aranha… Engraçadinha! Enfim! É certo que foi lida mais vezes do que eu (é mais velha, pois!), mas tanta presunção até lhe fica mal! Ainda assim, e estranhamente, somos dois amigos inseparáveis.

    O Peter não nos dá muita importância. A verdade é que raramente nos lê, nos limpa e nos arruma. Bem, felizmente, ou aterrávamos constantemente no tapete!

E esta é a minha “interessante” vida. O Peter está a chegar da escola com T.P.C. e eu não posso falar mais.

Martim Freire e Ivo Pacheco, 8.º D

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Já estou habituado!

    Eu sei, eu já sei o que vocês vão dizer, vão julgar-me pela capa, como sempre... Já estou habituado!

    Sou o livro Às cegas, escrito por Josh Malerman e publicado em 2018.

 

    Apesar de ser muitas vezes requisitado, nem sempre me dão o valor que mereço! Uns começam a ler-me, até entusiasmados, mas logo perdem todo o interesse nas primeiras páginas. Outros nem sequer têm iniciativa para me abrir! Requisitam-me e logo me abandonam. Será por ser um livro de terror?! Sinceramente, não entendo!! Mas, enfim, quem pode competir com Ebooks, smartphones, tablets e redes sociais?

    Foi exatamente isso que me aconteceu naquela tarde de quarta-feira, quando o Diogo, pouco fã de livros, depois de uma notificação, me abandonou no banco do parque. Senti-me como um sem-abrigo, sem dignidade e sem valor. Felizmente, pouco depois, um homem (mas não era um homem qualquer, era o diretor da maior biblioteca da cidade!) veio na minha direção. Usava um blazer preto, sapatos bem engraxados e uma gravata com uma cor invulgar. Agarrou-me, levou-me para o carro e pousou-me no banco do pendura. Uma experiência única!! O vidro da janela aberto e as minhas páginas a esvoaçar ao vento, a ouvir o Bruno Mars….

    Pela primeira vez, vi ruas e edifícios que nem sequer conhecia. Mas o que realmente importava era que pertencia a alguém que gostava mesmo de mim! Tratou-me como se fosse o melhor livro do mundo!!

    Foi uma felicidade enorme, porém de curta duração. Alguns meses depois, voltei a ser apenas mais um livro, numa prateleira quase vazia…

    Ainda assim, valeu a pena! Passei os melhores dias da minha vida com alguém que me realmente amou. Foi uma relação curta, mas intensa! :).

Beatriz Quintas, n.º 2, Rúben Antunes, n. º13, Constança Mendes, n.º 15, do 8.º D

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Um diário de bordo perdido!

    A minha história começou em 1491, quando um velho marinheiro me abandonou numa arca, no convés de uma das caravelas da armada de Vasco da Gama. Recordo que íamos na viagem até à Índia, e tudo decorria como previsto. Mas, de repente, quando tentávamos passar o Cabo das Tormentas, o navio começou a baloiçar, sacudido por ventos fortíssimos. O mar bravo levantou-nos quase até às nuvens e eu caí à água. Foram momentos de grande aflição, pensei que seria o meu fim. Seria esquecido, dizimado.

      Mas um milagre aconteceu! Fui dar à costa, não sei onde, exatamente. A única coisa de que me lembro é da comichão que a areia me fazia... Horas depois, fui encontrado por um homem que me agarrou como se eu fosse um tesouro. Sacudiu-me a areia, secou-me, depois tirou-me as rugas. Rejuvenesci! Desde então, cuidou de mim e tratou-me como eu nunca tinha sido tratado.

    Mas o tempo de felicidade não dura para sempre. Passados alguns anos, ele morreu. Foram longos anos tristes. Fiquei em casa dele, em África, sozinho durante bastante tempo, sem ver o mundo à minha volta. Até que um dia fui encontrado por um investigador, recuperado e levado para um museu como artefacto histórico.

    E pronto! Aqui estou, exposto numa vitrine que de tanta limpeza até sirvo de espelho… e sou o centro das atenções. Sinto-me imensamente feliz e muito estimado, mas ainda com muitas saudades do meu amigo, porque uma amizade verdadeira não se degrada como os livros…

Anna Clara Santos, n.º3, Carolina Fareleiro, n.º 7, Maria Rita Zuzarte, n.º 12, 8.º E

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Esquecido…

    Sou um Dicionário de Português “pré-acordo ortográfico", esquecido no “segundo andar” de uma estante do Ikea, num escritório de um h

omem de 40 anos chamado Artur, um empresário de sucesso. A realidade é que fui substituído por edições mais recentes e pelos dicionários online…Modernices! O meu maior adversário é o “Priberam”!


    Desde que os humanos escrevem segundo o novo acordo ortográfico que eu me sinto traído, relegado para terceiro ou quarto plano, desprezado. Dizem que estou desatualizado... Haja respeito pelos mais velhos !?! Tornei-me num ser solitário e deprimido, até me chamam rabujento… Para  cúmulo, tenho  um romance tagarela, piegas e egocêntrico ao meu lado. Tanta lamechice…! Haja paciência!

    Ainda me lembro dos meus dias de glória em que era usado diariamente em trabalhos de casa e requisitado para as salas de aula. Esses momentos eram o que me motivava e dava alegria para viver. Sentia-me confiante e orgulhoso. Agora estou para aqui entregue ao bicho da madeira, cheio de pó. A única pessoa que me dá atenção é a Dona Rosário, nas suas limpezas, às quartas-feiras à tarde. Gosto dela. Faz-me cócegas, quando me passa o espanador.

    Mas o que o que importa a opinião de um velho dicionário como eu? Fácil, não importa nada no século XXI.

 

Bianca Marques, n.º 4, 8.º, Carolina Simões, n.º 6, Rodrigo Faria, n.º 14, 8.º E

 

 

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