Melodia da vida

12-06-2021 12:04

     Nunca fui craque no “dó, ré, mi” e nos outros todos que, evidentemente, desconheço. Nunca fui a cachopa de soltar um “- Toca mais uma, pá!”. Quando o silêncio do mundo paira pela noite, perco-me nas mais amargas lágrimas da tua voz dolorida e, como diria o Palma, “deposito na cama os meus restos mortais”.

     Eram tardes, eram tardes de domingo. O sol abraçava-me, o mais apetitoso cheiro pairava pelo ar, os silenciosos cantos confrontavam-se com a mais penetrante voz, a minha avó derramava lágrimas de solidão e o pó da velha porcelana despedia-se. A penetrante voz cantava no mais silencioso coração. Fui criança sem sonhos abafados, de mente perpendicular ao monstruoso viver.

    Fui criança. Hoje, hoje sou humana!

    Monstros, por que vos deixei de sentir sob a minha cama?

    No silêncio da noite, arrasto-me pela calçada, cruzo a minha alma despida com aquela doce trompete e, assim, então, decomponho-me em paz. O rouxinol de asa partida, a alma de porcelana detalhada, a beata navega contra as indestrutíveis ondas. Jazz, o meu vício de luta contra o “hoje sou humana”. “Estás a ficar uma menina muito crescida”. 13 anos, começo a passar um dedo de interesse por vinis “de idade” (de boa idade, sublinho), coisas estas que me parecem, por vezes, fazer parte de uma simples decoração ao olho do ignorante. Cruzo-me eternamente contigo, avô Li. Cruzo-me contigo naquela música. Cruzo-me contigo naquele risco. O eterno da música. 16 anos, procuro vida na vida da música. És a cura da alma humana. És vida na morte. Repete a melodia da vida, por favor.

 

Sandra Santos, 10.º D, n.º 23

 

Voltar